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5º Workshop

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Casos de Desenvolvimento Regional

O desenvolvimento regional, tomando como unidade de análise a região, foca o desenvolvimento de uma entidade de âmbito mais limitado do que a economia do desenvolvimento, que geralmente toma o Estado-Nação como unidade relevante, mas de âmbito mais abrangente do que a gestão, onde a empresa é a unidade de análise relevante. Diversos autores têm procurado adaptar perspectivas desenvolvidas no âmbito da gestão das empresas para o estudo da região.
A aplicação de uma perspectiva empresarial aplicada a uma unidade territorial foi amplamente aceite quando proposta por autores como Porter (1985). No entanto, a abordagem de Porter é apenas uma das abordagens disponíveis na área da gestão, na linha do que Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) designam pela “escola do posicionamento”. Mas existem outras dimensões importantes para compreender a competitividade de uma empresa, região ou país para além do seu posicionamento estratégico, que têm sido desenvolvidas no contexto de abordagens à gestão como a perspectiva baseada nos recursos (“resource-based view”), desenvolvida por autores como Wernerfelt (1984) e mais tarde Barney (1991), que se basearam em ideias que já se encontravam em Penrose (1949). Outra abordagem é a abordagem evolucionista, de autores como Nelson e Winter (1982), que se baseiam no trabalho de Joseph Schumpeter (1942). Outros autores enfatizam as competências, e o que se designa por potencialidades dinâmicas, sendo este o caso de autores como Prahalad e Hamel (1990).
Todas estas abordagens têm em comum o facto de enfatizarem as potencialidades (capabilities) organizacionais da empresa, isto é, o potencial da empresa no contexto de um ambiente em mudança, e têm sido aplicadas por diversos autores ao estudo da região, e das potencialidades da região.
A abordagem baseada nas potencialidades organizativas (organizational capabilities), e a ênfase nas competências, faz parte de uma tradição que já vem do pensamento económico clássico, desde autores como Adam Smith (1776) até Karl Marx (1867), que estudaram o papel da divisão do trabalho na formação das competências, como nos diz Hodgson (1998). Muitos modelos contemporâneos de economia regional, por outro lado, têm adoptado uma perspectiva semelhante à da teoria económica ortodoxa, modelando os fluxos inter e intra regionais de acordo com uma metodologia quantitativa semelhante à que caracteriza a teoria económica ortodoxa. Esta abordagem, baseada no pensamento neoclássico, tem abandonado uma abordagem qualitativa aos fenómenos económicos que caracterizou os autores clássicos. Existe inclusive uma variedade de tradições económicas geralmente designadas por “heterodoxas” que procura também trazer estes aspectos qualitativos de volta à análise económica, como Lawson (2003) argumenta.
Lawson (1985) sugere que uma abordagem baseada no estudo de casos concretos será um modo de trazer aspectos qualitativos para a análise económica. Deste modo, poderia ser útil não só a aplicação de metodologias da gestão no âmbito do desenvolvimento regional, mas também o regresso às tradições do pensamento económico clássico, que tomando o Estado-Nação como objecto de estudo principal no âmbito da economia política, nunca deixaram de lado a vertente regional, e a dialéctica entre cidade e campo. 
Amartya Sen (1999) tem defendido também um retorno aos autores clássicos de modo a enriquecer a teoria económica. Para além disso, Sen (1999) enfatiza também o papel fundamental das potencialidades, demonstrando como a expansão das potencialidades humanas (human capabilities) deve ser vista como a meta do desenvolvimento, e também o meio para atingir o desenvolvimento. Sendo assim, parece haver espaço para uma análise baseada nas potencialidades humanas e organizacionais no âmbito do desenvolvimento regional, análise esta que já tem tradição na área da gestão e da economia, e que poderá dar um contributo significativo na área do desenvolvimento regional, através do estudo de casos onde seja possível analisar em concreto o desenvolvimento das potencialidades humanas e organizativas do espaço territorial.
O presente Workshop procura promover linhas de investigação que, através do estudo de casos, abram novas perspectivas ao desenvolvimento regional, numa abordagem em que o desenvolvimento regional se assume como uma área interdisciplinar e plural, aberta não só a metodologias do estudo de caso que têm sido mais utilizadas na área da gestão, como a diferentes tradições de pensamento económico que têm sido relativamente negligenciadas pelo paradigma neoclássico dominante. Procura-se uma abordagem plural não só na análise económica, mas também no estudo de casos, indo para além da abordagem do posicionamento defendida por Porter (1985), procurando-se complementar esta perspectiva com outros contributos da área da gestão, no estudo dos recursos e competências regionais.

Bibliografia:
Barney, Jay, (1991), Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management; 17, (1), pp.99–120.
Hodgson, Geoff (1998) “Evolutionary and competence-based theories of the firm” Journal of Economic Studies 25: 25–56.
Lawson, Tony (1985), “Uncertainty and Economic Analysis”, Economic Journal, 95, 909-927.
Lawson, Tony (2003), Reorienting Economics, London, Routledge.
Marx, Karl (1999 [1867]), Capital, Oxford, Oxford University Press.
Mintzberg, Henry; Ahlstrand, Bruce; and Lampel, Joseph (1998), Strategy Safari: A Guided Tour through the Wilds of Strategic Management, London, New York, Toronto and Sidney, Free Press.
Nelson, Richard; and Winter, Sidney (1982), An Evolutionary Theory of Economic Change, Cambridge MA, Belknap Press.
Penrose, Edith (1959), The Theory of the Growth of the Firm, Oxford, Basil Blackwell.
Porter, Michael (1985), Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance, New York, Free Press.
Prahalad, C.K. and Gary Hamel, (1990), "The Core Competence of the Corporation", Harvard Business Review, 68, 79-91 
Schumpeter, Joseph (1992[1942]), Capitalism, Socialism and Democracy, London and New York, Routledge.Smith, Adam (1776), An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations; London, Methuen and Co., Ltd.
Wernerfelt, Birger (1984), The Resource-Based View of the Firm. Strategic Management Journal; 5, 171–180.